Teoria do Desamparo Aprendido

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“Em 1967, Overmier e Seligman descobriram que cães expostos a choques elétricos — de maneira inescapável e inevitável — perdiam sua capacidade de aprender a escapar de choques elétricos quando escapar era uma opção viável.” (p. 3)¹

Esse horrendo experimento fundamentou uma generalização da teoria para, além de cães e ratos, estudar a tendência em seres humanos, e talvez apontar uma das causas da depressão.

Hoje sabemos que as causas da depressão, e de qualquer doença mental, são múltiplas e dá um trabalho da peste estabelecê-las com precisão, principalmente no contexto clínico.

O fato é que nós também temos essa tendência e respondemos da mesma forma: deparar-se com situações incontroláveis parece gerar uma crença profunda de que o próprio comportamento nada tem a ver com o resultado de uma situação.

“Nada do que eu faça irá mudar este cenário, este problema.”

Vou repetir pra inculcar: a Teoria do Desamparo Aprendido argumenta que a exposição a situações incontroláveis (ou seja, em que nada do que você faz tem um efeito sobre o resultado, ou nas quais você realmente nada pode fazer) faz com que um organismo aprenda que o seu comportamento e os resultados de uma situação sejam completamente independentes um do outro.

O condicionamento do comportamento humano é absurdamente complexo: cada pessoa é diferente e, embora tenhamos a tendência de generalizar aprendizagens, também podemos aprender comportamentos de maneira bastante distinta.

Explico: se somos atacados por um cachorro, podemos facilmente generalizar o acontecimento, e desenvolver uma fobia por cães. Qualquer cachorro, em qualquer situação, pode ativar a sua resposta de luta-ou-fuga, e agora você tem que ir ao psicólogo.

Por outro lado, você pode aprender somente a não passar tão perto do portão da casa dos outros, ou fazer um treinamento sobre como se defender de ataques de cães com o Mestre Youtube.

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O que quero dizer é que, quanto ao Desamparo Aprendido, acredito que ele não seja nem só exatamente a causa, nem só exatamente a consequência de uma doença mental como a depressão, por exemplo, mas um fenômeno de condicionamento comportamental, que se manifesta em diferentes áreas da vida.

Se pegamos emprestado alguns conceitos da Teoria Cognitiva, entendemos que esse comportamento condicionado tem uma crença fundamental: a de que somos incapazes de lidar com certas situações.

Esse é um tipo muito comum do que chamamos de crença limitante.

Psicoterapeutas cognitivo-comportamentais irão dizer: não só você se comporta assim, mas você pensa assim.

Ao enfrentar uma situação sobre a qual você está certo de que não há saída, você fica inerte (comportamento) e sente pensa (calcula) que “não adianta fazer nada”, “as coisas são assim mesmo”, “já tentei de tudo”, “quero é que se f***”, “por que eu?”, “só comigo acontecem essas coisas”.


Proponho, aqui, que você se lembre do Desamparo Aprendido como um conceito definido, como um fenômeno ao qual todos nós estamos expostos, e como um possível hábito gerado pela vivência traumática ou pelas dificuldades inerentes à vida.

E te lembrar que as situações humanas são muitíssimo complexas, e que o sofrimento possível para pessoas é muito pior que um simples choque elétrico.

Esse sofrimento pode nos paralisar e gerar na gente essas crenças limitantes.

Mas, também, como seres humanos, somos definidos pela nossa inteligência, pela nossa capacidade indefinida à aprendizagem, à superação de obstáculos, pela altíssima adaptabilidade, e até pela possibilidade da santidade.

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Portanto, para melhorar a sua vida, para resolver problemas com mais eficiência (os que cabem a você resolver), entenda que sua sensação de desamparo, sua falta de esperança e de motivação podem não ser uma avaliação precisa e correta da sua situação, e sim, somente uma crença limitante aprendida.

Para melhorar, é preciso se abrir: abrir mão desse cálculo imediato; renunciar às nossas certezas mórbidas, e apostar em novas saídas, novos instrumentos e ferramentas, e na crença de que seus problemas, seja lá quais forem, podem, sim, ter uma solução, e que só é preciso descobri-la.
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REFERÊNCIAS

  • MAIER, S. F. ; Salifgman, M. E. P. Learned Helplessness: Theory and Evidence. Journal of Experimental Psychology: General 1976, Vol. 105, No. 1, 3-46.
  • FÜLOP-MILLER, René. Os Santos que Abalaram o Mundo. São Paulo: José Olympo, 2005.
  • Nyad — Filme, tem na Netflix, 2023.
  • La Sociedad de la Nieve — Filme, tem na Netflix, 2024.

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